sábado, 25 de fevereiro de 2012

a vírgula - Pasquale Cipro Neto - PARTE 2

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04/11/2011

Duas palavras sobre a vírgula (2)

Pasquale Cipro Neto





Na semana passada, trocamos dois dedos de prosa sobre algumas das situações em que se emprega (ou não se emprega) a vírgula. Um dos casos vistos é clássico: com uma simples vírgula, o que é sujeito passa a vocativo. Nossos exemplos foram “Meu filho dorme!” e “Meu filho, dorme!”. Na primeira frase (sem vírgula), “meu filho” é sujeito; na segunda, é vocativo.



Vejamos outro caso semelhante. Imagine uma torcida de um time de futebol furiosa com os atletas de sua equipe. Que tal a torcida do Palmeiras, que não vai nada bem das pernas? Suponha que essa torcida exponha num estádio estas faixas: “Valdivia joga bola”; “Valdivia, joga bola”. Que tal? Com a primeira faixa, o atleta seria elogiado; com a segunda... Percebeu?



A esta altura, talvez seja bom (re)lembrar que, quando os termos de uma oração estão dispostos na ordem direta, não há motivo para o uso da vírgula. Veja este exemplo: “Todos os atletas recentemente contratados pelo riquíssimo clube da capital espanhola são titulares das seleções de seus países”. Qual é o sujeito dessa oração? Começa em “todos” e termina em “espanhola”. Pois bem, entre “espanhola” e “são”, ou seja, entre o sujeito e o verbo, não há vírgula. E não há por uma razão muito simples: não existe motivo para separar termos que têm relação sintática direta e que estão lado a lado, como sujeito e verbo (ou verbo e sujeito), verbo e seus complementos etc.



Vejamos outros exemplos: “Mostrei o texto a ela”; “Entregaremos o certificado de conclusão do curso a todos os alunos aprovados nas provas e presentes a pelo menos 80% das aulas”. Que semelhança há entre esses dois exemplos? Vamos pensar. No primeiro, temos a forma verbal (“mostrei”) seguida de seus dois complementos: “o texto” (complemento direto, a coisa que se mostra) e “a ela” (complemento indireto, a pessoa a quem se mostra o texto). Você colocaria alguma vírgula nesse exemplo? É pouco provável, não? Pois bem, na segunda frase temos exatamente a mesma seqüência: a forma verbal “entregaremos” e seus dois complementos (“o certificado de conclusão do curso”, complemento direto, e “a todos os alunos aprovados nas provas e presentes a pelo menos 80% das aulas”, complemento indireto). A diferença é o tamanho dos complementos, o que não significa nada: não há vírgula no primeiro exemplo porque o verbo e seus dois complementos vêm em sequência direta; não há ví rgula no



segundo exemplo pelo mesmo motivo.



Quer ver outro exemplo clássico? Vamos lá: “Informamos a todos os interessados que João das Neves é funcionário desta empresa desde 1976”. A forma verbal “informamos” é seguida de seus dois complementos: a pessoa a quem se informa algo (complemento indireto) e aquilo que se informa (complemento direto). Não há vírgula depois de “informamos” porque não se separa verbo de complemento de verbo, assim como não se separa pai de filho. Não há vírgula depois de “interessados” porque não se separa um complemento verbal de outro, assim como não se separa um irmão de outro. Em outras palavras, o complemento indireto de “declaramos” é “a todos os interessados”; o complemento direto é “que João das Neves é funcionário desta empresa desde 1976”. Por fim, não há vírgula entre “João das Neves” e “é” porque, como você já sabe, não se separa sujeito de verbo com vírgula.



A história vai longe. Por enquanto, tente lembrar (e entender) que a vírgula não tem relação com os pulmões. Seu emprego depende de fatores ligados à sintaxe e, muitas vezes, ao estilo.

a vírgula - Pasquale Cipro Neto

28/10/2011 | Duas palavras sobre a vírgula
Pasquale Cipro Neto

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Já faz tempo que não troco com os leitores duas palavras sobre o emprego dos sinais de pontuação. Nem preciso dizer que a vírgula é _de longe_ a campeã das solicitações dos leitores quando tratam do assunto “pontuação”.

Para começar, não custa (re)lembrar que é melhor deixar de lado pérolas como “a vírgula serve para respirar” ou “cada vez que se respira, coloca-se uma vírgula”. Definitivamente, é bom esquecer esses “conceitos”.

Essas falsas teses decorrem _provavelmente_ da inversão do raciocínio: como a vírgula muitas vezes indica uma pausa, supõe-se (erroneamente) que a toda pausa corresponde uma vírgula. Não é assim. Quando o sujeito é longo, por exemplo, é normal que, na leitura, haja uma pausa entre ele e o verbo, o que não significa que se deva colocar uma vírgula entre esses dois termos da oração.

Verbo e sujeito (ou sujeito e verbo) não se separam por vírgula, mesmo que o sujeito seja extenso. Vejamos estes dois casos: “Meu filho dorme!”; “Meu filho, dorme!”. Nesses trechos, a função de “meu filho” depende da presença ou da ausência da vírgula. No primeiro exemplo (sem vírgula), “meu filho” é o sujeito da oração. Nesse caso, declara-se que o filho dorme. No segundo exemplo, a vírgula transforma “meu filho” em vocativo, que nada mais é do que o ser (real ou personificado) ao qual a mensagem é dirigida. A palavra “vocativo” é da mesma família de “evocar”, “evocação”, “convocar” etc.

Os dois exemplos do parágrafo anterior ilustram bem o que pode ocorrer quando se emprega uma “inofensiva” vírgula. Pode-se, por exemplo, transformar o sujeito em vocativo (e vice-versa); pode-se, enfim, pura e simplesmente alterar o sentido do texto.

Em mensagens publicitárias (de empresas privadas ou de órgãos públicos) é comum o emprego do vocativo sem a vírgula. Há algum tempo, havia uma campanha cujo lema era “Acorda Brasil!”. Que significa isso? Tudo, menos o que parecia ser o objetivo do Ministério da Educação (patrono da campanha). Para que o termo “Brasil” funcionasse como vocativo, teria sido necessário separá-lo por vírgula (“Acorda, Brasil!”).

A esta altura, alguém talvez esteja pensando nas formas verbais “acorda” e “dorme”, das frases “Acorda, Brasil!” e “Meu filho, dorme!”. Para que se configurasse a ideia de ordem e para que “Brasil” e “meu filho” efetivamente tivessem a função de vocativo, não seria necessário que as formas verbais fossem “acorde” e “durma”, respectivamente? A resposta é não. Consegue-se o tom imperativo (de ordem) na mensagem tanto com “acorda” e “dorme” quanto com “acorde” e “durma”.

Em termos de língua padrão, “acorda” e “dorme” são da segunda pessoa do singular (“tu”) do imperativo afirmativo, que, como já vimos algumas vezes neste espaço, deriva do presente do indicativo (sem o “s” final”). De “acordas (“tu acordas”) e “dormes” (“tu dormes”), fazem-se “acorda” e “dorme” (segunda pessoa do singular do imperativo afirmativo de “acordar” e “dormir”, respectivamente). Sempre em termos de língua padrão, a terceira pessoa do singular do imperativo é feita a partir do presente do subjuntivo (“acorde” e “durma”, respectivamente).

Moral da história: em “Acorda, Brasil!” e “Meu filho, dorme!”, temos (de acordo com a língua padrão) a segunda pessoa do singular (“tu”) do imperativo afirmativo; em “Acorde, Brasil!” e “Meu filho, durma!”, temos a terceira pessoa do singular (“você”). Se pensássemos na língua oral do Brasil, a questão seria um pouco diferente, mas isso fica para outra coluna.
Autor
Pasquale Cipro Neto

Pasquale Cipro Neto é professor de português desde 1975.


AuthorUID Outros artigos de Pasquale Cipro Neto


05/01/2012 | E o ponto e vírgula?
Pasquale Cipro Neto


Nas últimas semanas, trocamos dois dedos de prosa sobre alguns casos do emprego (e do não emprego) da vírgula. No último texto, vimos que o “e” e a vírgula se dão muito bem. Hoje vamos trocar duas palavras sobre o ponto e vírgula (;), sinal de pontuação cujo emprego não é tão complicado como muita gente pensa. Antes que eu me esqueça, uma pergunta: notou que, depois da reforma ortográfica, a expressão “ponto e vírgula” passou a ser grafada sem hífen?
Pois bem. O emprego do ponto e vírgula pode começar a se simplificar se pensarmos no nome dele. Por que “ponto e vírgula”? Certamente, porque se trata da mistura da vírgula com o ponto final. O ponto e vírgula indica uma pausa mais forte do que a da vírgula e mais fraca do que a do ponto. Em outras palavras, o ponto e vírgula é quase um ponto final.
Leia comigo este título jornalístico: “Copom reduz os juros; nova taxa é a mais baixa do ano”. Que faz aí o ponto e vírgula? Separa duas partes autônomas, independentes, que têm sentido completo. É como se tivéssemos isto: “Copom reduz os juros. Nova taxa é a mais baixa do ano”. Como se vê, seria possível colocar ponto final, mas, com o ponto e vírgula, deixa-se claro que, embora autônomas, as duas informações se referem ao mesmo assunto, fazem parte do mesmo contexto.
Agora leia esta frase: “Quando ela estava pronta para sair; começou a trovejar”. Que lhe parece o ponto e vírgula? Mal empregado, não? O primeiro dos blocos separados pelo ponto e vírgula (“Quando ela estava pronta para sair”) é autônomo, independente? Certamente não. Esse bloco é incapaz de, sozinho, constituir informação plena, completa.
Moral da história: o ponto e vírgula não separa partes dependentes; separa partes autônomas, independentes, porém ligadas pela noção de conjunto, de contexto.
Quer ver outro bom exemplo? Imagine uma lista das decisões tomadas numa assembleia de condôminos. Teríamos a clássica frase inicial, que costuma terminar com dois pontos (“A assembléia deliberou o seguinte:”), e em seguida a lista de decisões, numeradas ou marcadas por letras. Que se coloca ao fim de cada item? Certamente um ponto e vírgula, que indica que cada item tem sentido completo, mas faz parte de um conjunto. Depois da clássica frase inicial, poderíamos ter o seguinte: “1) multar os moradores que sujarem as paredes; 2) iniciar a reforma da garagem, aprovada na reunião anterior; 3) instalar a nova central de interfones”.
Mais um exemplo? Vamos lá. Vamos passar pelo futebol, ou, mais especificamente, pela escalação de um time de futebol. Para ninguém brigar comigo, não vou pegar a escalação (atual ou antiga) de um dos nossos times. Vou pegar uma escalação da seleção brasileira. Que tal a de 1970, que ganhou a Copa do México? Lembra qual era o time titular? A equipe que mais jogou era esta: Félix, Carlos Alberto, Brito, Wílson Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé.
O que você notou em relação aos sinais de pontuação? Percebeu que os jogadores são separados por vírgulas, mas, de repente, aparece um ponto e vírgula? Depois, nova sequência de jogadores separados por vírgula, até que aparece um novo ponto e vírgula. Depois, a última repetição dessa sequência. Qual é o segredo? É simples: quando acaba a defesa e começa o meio de campo, acaba uma parte, um compartimento, mas não acaba o todo, o conjunto, ou seja, o time. Nessa hora, o que separa um compartimento do outro é o ponto e vírgula. Quando acaba o meio de campo e começa o ataque, o processo se repete. Não é difícil, é?

EM ELZA DE OLIVEIRA CARVALHO

A partir de fevereiro de 2012 este blog estará voltado principalmente para os alunos do 8º ano da E.M. Elza de Oliveira Carvalho, onde estarão postados exercícios, atividades e outros materiais para nossas aulas!