sábado, 25 de fevereiro de 2012

Autor
Pasquale Cipro Neto

Pasquale Cipro Neto é professor de português desde 1975.


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05/01/2012 | E o ponto e vírgula?
Pasquale Cipro Neto


Nas últimas semanas, trocamos dois dedos de prosa sobre alguns casos do emprego (e do não emprego) da vírgula. No último texto, vimos que o “e” e a vírgula se dão muito bem. Hoje vamos trocar duas palavras sobre o ponto e vírgula (;), sinal de pontuação cujo emprego não é tão complicado como muita gente pensa. Antes que eu me esqueça, uma pergunta: notou que, depois da reforma ortográfica, a expressão “ponto e vírgula” passou a ser grafada sem hífen?
Pois bem. O emprego do ponto e vírgula pode começar a se simplificar se pensarmos no nome dele. Por que “ponto e vírgula”? Certamente, porque se trata da mistura da vírgula com o ponto final. O ponto e vírgula indica uma pausa mais forte do que a da vírgula e mais fraca do que a do ponto. Em outras palavras, o ponto e vírgula é quase um ponto final.
Leia comigo este título jornalístico: “Copom reduz os juros; nova taxa é a mais baixa do ano”. Que faz aí o ponto e vírgula? Separa duas partes autônomas, independentes, que têm sentido completo. É como se tivéssemos isto: “Copom reduz os juros. Nova taxa é a mais baixa do ano”. Como se vê, seria possível colocar ponto final, mas, com o ponto e vírgula, deixa-se claro que, embora autônomas, as duas informações se referem ao mesmo assunto, fazem parte do mesmo contexto.
Agora leia esta frase: “Quando ela estava pronta para sair; começou a trovejar”. Que lhe parece o ponto e vírgula? Mal empregado, não? O primeiro dos blocos separados pelo ponto e vírgula (“Quando ela estava pronta para sair”) é autônomo, independente? Certamente não. Esse bloco é incapaz de, sozinho, constituir informação plena, completa.
Moral da história: o ponto e vírgula não separa partes dependentes; separa partes autônomas, independentes, porém ligadas pela noção de conjunto, de contexto.
Quer ver outro bom exemplo? Imagine uma lista das decisões tomadas numa assembleia de condôminos. Teríamos a clássica frase inicial, que costuma terminar com dois pontos (“A assembléia deliberou o seguinte:”), e em seguida a lista de decisões, numeradas ou marcadas por letras. Que se coloca ao fim de cada item? Certamente um ponto e vírgula, que indica que cada item tem sentido completo, mas faz parte de um conjunto. Depois da clássica frase inicial, poderíamos ter o seguinte: “1) multar os moradores que sujarem as paredes; 2) iniciar a reforma da garagem, aprovada na reunião anterior; 3) instalar a nova central de interfones”.
Mais um exemplo? Vamos lá. Vamos passar pelo futebol, ou, mais especificamente, pela escalação de um time de futebol. Para ninguém brigar comigo, não vou pegar a escalação (atual ou antiga) de um dos nossos times. Vou pegar uma escalação da seleção brasileira. Que tal a de 1970, que ganhou a Copa do México? Lembra qual era o time titular? A equipe que mais jogou era esta: Félix, Carlos Alberto, Brito, Wílson Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé.
O que você notou em relação aos sinais de pontuação? Percebeu que os jogadores são separados por vírgulas, mas, de repente, aparece um ponto e vírgula? Depois, nova sequência de jogadores separados por vírgula, até que aparece um novo ponto e vírgula. Depois, a última repetição dessa sequência. Qual é o segredo? É simples: quando acaba a defesa e começa o meio de campo, acaba uma parte, um compartimento, mas não acaba o todo, o conjunto, ou seja, o time. Nessa hora, o que separa um compartimento do outro é o ponto e vírgula. Quando acaba o meio de campo e começa o ataque, o processo se repete. Não é difícil, é?

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